domingo, 23 de setembro de 2007
Clara Nunes - Guerreira da Utopia
Acabo de saber que foi publicada a biografia Clara Nunes - Guerreira da Utopia, do jornalista Vagner Fernandes (foto da capa acima). Ainda não tive a oportunidade de ler, mas independente de qualquer coisa já recomendo que todos a leiam. Tudo o que escreverem sobre Clara Nunes será pouco diante de sua grandiosa contribuição à afirmação do caráter brasileiro. Conhecê-la e ouví-la é um dever cívico. Clara era brasileiríssima! Ela merece todas as honrarias
A artista que mais influência exerceu sobre meu amor pela música e minha visão de mundo foi, sem dúvida, Clara Nunes. Quando criança, eu escutava mto Clara Nunes e ficava mexendo naqueles posters enormes q vinham junto com os discos dela. Por conta desta época aqueles sambas e canções da Guerreira têm o poder de me transportar para um tempo de descobertas carregado de cheiros, gostos e texturas, lembranças.
Músicas como "Canto das três raças", "Feira de mangaio", "Deixa clarear", "Menino Deus", "A Deusa dos Orixás", "Ijexá", "Mae Africa", trazem sempre o aroma dos almocos de domingo q minha mae fazia juntos com os familiares e tb a alegria da molecada brincando na rua e a sensação térmica das manhãs ensolaradas de domingo...
Além de ser a mulher mais bonita que já viveu neste país, Clara foi também a maior dentre as nossas maiores intérpretes. Que me perdoem os defensores de Elis Regina, de quem gosto muito também, mas Clara foi a cantora que mais entendeu o Brasil. Se você quer conhecer a alma do povo, escute os discos da Clara. Eles são tão importantes para a compreensão da civilização brasileira quanto as obras de pensadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Darcy Ribeiro. Para mim têm o mesmo peso e ajudam a explicar muito do que somos. Não há, na discografia de Clara, uma só faixa aleatória, gravada por imposição das majors ou para agradar quem quer que seja. Enquanto viveu, manteve seu compromisso de só gravar o que queria, o que gostava e o que julgava ser essencialmente nacional: sambas, xotes, baiões, frevos, maracatus, toadas e canções românticas. Valorizou, como nenhuma outra intérprete, o trabalho do letrista. A letra, para ela, era tão importante quanto a música. Os encartes de seus discos podiam ser lidos, separadamente, como livros de poesia. Foi também a primeira a assumir, com orgulho, sua ligação com o Candomblé e a Umbanda, numa época em que o preconceito contra os cultos afro-brasileiros era ainda maior.
Clara, filha de Ogum com Iansã, cantava com a força de uma tempestade tropical. Ela era de uma alegria incrivel, eu adorava ver aquele rosto sorrindo alegre estampado nas capas dos discos dela.
Quando morreu, muito moça, aos 39 anos de idade, os atabaques de todos os terreiros tocaram em reverência.
Salve Clara Nunes!
Clique em PLAY e se aventure ouvindo Clara:
Guerreira
Intérprete: Clara Nunes
Letra: Joao Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro
Disco: Guerreira 1978
Se vocês querem saber quem eu sou
Eu sou a tal mineira
Filha de Angola, de Ketu e Nagô
Não sou de brincadeira
Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira
Dentro do samba eu nasci,
Me criei, me converti
E ninguém vai tombar a minha bandeira
Bole com samba que eu caio e balanço o balaio no som dos tantãs
Rebolo, que deito e que rolo,
Me embalo e me embolo nos balangandãs
Bambeia de lá que eu bambeio nesse bamboleio
Que eu sou bam-bam-bam
E o samba não tem cambalacho,
Vai de cima embaixo pra quem é seu fã
Eu sambo pela noite inteira,
Até amanhã de manhã
Sou a mineira guerreira,
Filha de Ogum com Iansã S
alve o Nosso Senhor Jesus Cristo,
Epa Babá, Oxalá!
Salve São Jorge Guerreiro, Ogum, Ogunhê, meu Pai!
Salve Santa Bárbara, Eparrei, minha mãe Iansã!
Salve São Pedro, Kaô cabecilê, Xangô!
Salve São Sebastião, Okê arô, Oxóssi!
Salve Nossa Senhora da Conceição,otopiabá, Yemanjá!
Salve Nossa Senhora da Glória, oraieiê, Oxum!
Salve Nossa Senhora de Santana, Nanã Burukê, Saluba, vovó!
Salve São Lázaro, atotô, Obaluaiê!
Salve São Bartolomeu, arrobobó, Oxumaré!
Salve o povo da rua, salve as crianças, salve os preto véio; Pai Antônio, Pai Joaquim de Angola,vovó Maria Conga,saravá!
E salve o rei Nagô!
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Um comentário:
Bravo, Fabiano!!
eu cheguei a ficar emocionado, serio
poucos posts comentam tao bem a trajetoria da mineira guerreira.
grande abraço do teu primim
kadu
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